Críticas | Maria e o Cangaço

“Maria e o Cangaço” estreou em 4 de abril no catálogo do Disney+.

maria e o cangaço
Júlio Andrade interpreta Lampião e Ísis Valverde interpreta Maria Bonita na série. (Foto: Reprodução)

A história brasileira é rica, cheia de trajetórias fascinantes, que nem sempre ganham a atenção devida – ou precisam de tempo para contarem a história de forma mais potente. É o caso de Lampião e Maria Bonita, que persistem no imaginário popular, suas andanças e feitos no cangaço. Mesmo com diferentes obras, seja TV, cinema, teatro, música e literatura, parece que nem um terço foi abordado sobre o grupo.

Baseada na obra “Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço“, de Adriana Negreiros, Maria e o Cangaço explora os últimos anos de Maria Bonita (Ísis Valverde) e o grupo de Lampião (Júlio Andrade). A série traz o papel fundamental dessa mulher entre os cangaceiros, como a única voz feminina ouvida por aqueles que participavam do grupo.

Com seis episódios (todos entre 30 e 40 minutos de duração), o seriado se propõe a mostrar lados esquecidos pelo imaginário brasileiro. O passado conturbado de Maria de Déa não é narrado com sequências longas, com a narrativa se concentrando apenas em momentos para mostrar suas inseguranças envolvendo a parte de “ser mulher” e como a família enxergava seu relacionamento com Lampião.

Valverde possui uma das atuações mais potentes de sua carreira. Desafiando um espaço extremamente masculino, acolheu e ajudou mulheres dentro do grupo. Após engravidar, precisou se submeter a uma das duras leis do cangaço: deixar a criança para ser criada por outra pessoa. Sua trajetória é marcada por momentos fortes, que deseja se impor para aqueles homens e não se deixar ser engolida por machezas.

A fotografia ajuda a contar essa história. Realizada por Adrian Teijido (responsável pelo vencedor do Oscar, Ainda Estou Aqui, e que também atua dentro da equipe de direção episódica), a forma como os enquadramentos funcionam, atravessando o sertão nordestino, conseguem mostrar os percalços do grupo na secura e na incerteza durante os anos de perseguição de Silvério Batista (Rômulo Braga).

Obviamente, é possível perceber que há problemas dentro da narrativa. Na busca pelo foco nos anos finais do grupo, e a necessidade de enxugar a história, não é possível questionar tratamentos das mulheres pelos cangaceiros. Lourdes (Thainá Duarte) talvez seja a única exceção, por como Maria se relaciona com a garota desde sua chegada, tratando-a como irmã, protegendo-a ao máximo de investidas de companheiros, que, após seu resgate, já querem a colocar como propriedade.

Porém, tira dificilmente o mérito de Sérgio Machado em trazer essa produção para o público. A história precisa ser replicada ou, pelo menos, trazer conversas sobre a época, desmitificar algumas ações daquele momento do Brasil. É possível até realizar conexões com a atualidade, com muitos utilizando os mesmos discursos sobre segurança, sobre o que é certo e errado, para cometerem atrocidades.

Assim, Maria e o Cangaço é uma das produções mais complexas sobre a história do casal que dominou o sertão nordestino entre as décadas de 1929 e 1938. Mas, principalmente, sobre a mulher que se atreveu em uma comunidade machista, se tornando um símbolo de resistência feminina que perpetua até hoje.

Maria e o Cangaço estreou em 4 de abril no catálogo do Disney+.

Nota: