Críticas | Pobres Criaturas
“Pobres Criaturas” estreia amanhã, 1º de fevereiro, nos cinemas brasileiros.

Quando ganhou o prêmio de Melhor Atriz – Comédia ou Musical, Emma Stone mencionou que acredita que Pobres Criaturas (Poor Things, no título original) é uma história de amor – e não é somente sobre o amor romântico.
Baseado em livro homônimo escrito por Alasdair Gray, e lançado em 1992, o filme é sobre a jornada libertadora (em vários sentidos) de Bella Baxter. Ambientado em uma versão da Londres vitoriana, Pobres Criaturas é passível de comparação com “Frankestein” de Mary Shelley, com seu enredo centrado em uma mulher ressuscitada por um cientista (que também sofreu de experimentos), cujas aventuras de autodescobertas vão além do que é ter livre arbítrio.
Emma Stone interpreta uma Bella que, no começo, ainda aprende sobre coordenação motora, como falar, como se portar em sociedade, e se transforma em uma mulher questionadora, opinativa, com saberes que só são capazes por desafiar a se aventurar pelo mundo. A sua atuação é cativante, encantando o espectador a cada novo desafio da personagem, seja com sua lógica irrevogável, sua inibição e pura visão da vida.
Três homens são fundamentais para a jornada de Bella. Dr. Godwin “God” Baxter (Willem Dafoe) é um cientista falho, cujos traumas do passado estão tão intrínsecos em seu ser, que é determinante ao lidar com sua própria criação. O seu assistente, Max McCandles (Ramy Youssef), é um jovem que se encanta por Bella e sua visão pura de mundo. Já Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo), um advogado no mínimo picareta, e promete amor, sexo e conhecer o mundo.
O roteiro de Tony McNamara (responsável por A Favorita, de 2018, e a série The Great) se alimenta do absurdo, com a direção de Yorgos Lanthimos (A Favorita) trazendo ângulos, enquadramentos inusitados para essa odisseia. Durante os 139 minutos, o espectador é agraciado com a maneira que Lanthimos apresenta os fatos, a nudez, e o cenário fantasioso de passagens por Lisboa, Alexandria, Paris e o retorno a Londres. Além disso, o filme é expansivo, excêntrico, algo tão único, que mostra como a parceria entre Lanthimos e McNamara se fortaleceu com os anos.
A cisão do uso do preto e branco para as cores vibrantes, é um acerto retumbante em como a narrativa é apresentada, incluindo em como as vestimentas de Bella também se transformam conforme sua jornada progride. São estes detalhes, e o uso de uma trilha sonora dramática desde o primeiro momento, que contribuem para que o filme tenha um carisma chocante, arrebatador, que fazem parte do enredo.
No fim, Pobres Criaturas possui uma excelência em sua narrativa, que mesmeriza o público por sua honestidade. A jornada de autodescobertas, libertação sexual, livre arbítrio, de uma mulher presa em diferentes âmbitos, é um reflexo da era (mesmo que fantasiosa) que está ambientado e da atualidade, dialogando constantemente com um público que deseja assistir projetos do gênero – e não precisa ser tratado como algo feminista, apenas um produto sobre temas que são capazes de conversar com camadas sociais, gêneros, vivências diferentes.
Pobres Criaturas estreia amanhã, 1º de fevereiro, nos cinemas brasileiros.