Críticas | Luta Pela Liberdade
“Luta pela Liberdade” estreia em 18 de agosto nos cinemas brasileiros.
É inegável que um dos diretores chineses mais famosos no ocidente seja Zhang Yimou. No ínicio do século XXI ele chamou a atenção mundial com a dobradinha Héroi (2002) e O Clã das Adagas Voadoras (2004) e, por mais que esses dois filmes sejam o auge de público e crítica que Yimou conquistou, eles fazem parte apenas do meio da carreira do diretor, que remonta ao fim dos anos 1980.
Conhecido por ser imprevisível e muitas vezes irregular em suas obras, os últimos anos tem sido tudo menos calmos para ele.
Em 2016, o diretor se juntou a Matt Damon, Willem Dafoe e Pedro Pascal para fazer o horrendo A Grande Muralha, um filme feito para tentar agradar a audiência ocidental, mas que foi um desastre tanto em crítica quanto em público, gerando um prejuízo de cerca de $75 milhões de dólares mundialmente.
Já Um Segundo (2020) foi cercado de polêmicas, já que depois de ser anunciado como um dos filmes presentes no festival de Berlim de 2019, o longa-metragem foi tirado da competição por alegações de problemas técnicos, mas logo depois vieram boatos de que o Partido Comunista Chinês (PCC) teria censurado o filme por causa do conteúdo dele, que se passa durante a revolução chinesa.
Em Luta Pela Liberdade (Cliff Walkers, no título em inglês), seu novo filme, Zhang Yimou faz praticamente um filme propaganda e não está nem um pouco preocupado com suavidade ou subtexto.
Os personagens são muito bem definidos: os japoneses são ruins, maldosos, torturadores e imperialistas; os chineses são grandes patriotas corajosos que estão dispostos a morrer pela liberdade do seu povo.
E é lógico que isso não tem problema. Todos os anos consumimos dezenas de filmes/séries propaganda americanos como Top Gun (1986) e até mesmo Stranger Things, e tratamos com normalidade por serem divertidos e estarmos (querendo ou não) muito expostos a cultura norte-americana.
O que mais me incomodou durante os 120 minutos de duração foi a falta de background de todos os personagens. Tirando uma subtrama bem fraca de duas crianças que foram raptadas por japoneses, em nenhum momento somos abordados com a história de nenhum deles. Em certo momento, me lembrou de Tenet (2019), do Christopher Nolan. Tudo é sobre a missão, a missão, a missão, a missão!
Apesar da falta de história dos integrantes do grupo, a escolha do diretor de não definir protagonistas é acertada, e aos poucos vamos criando uma afeição por cada um e torcendo por eles.
A trama, que acontece durante os anos 1930, tem espionagem, perseguições de carros, traições, tiroteios, tortura… o que não falta são momentos tensos, apesar de no começo o filme demorar para engrenar em cenas de ação, que só ficam melhores coreografadas do meio para o final.
Com tudo isso, é de se esperar que o ritmo seja acelerado e com muitos cortes, mas uma das características que mais gostei é que o mistério se sobressai a ação. A mistura clássica de mistério, cigarros, neve, objetos e identidades que não podem ser descobertas e espionagem já criam um clima que dispensa correria.
O elenco é neutro, sem grandes destaques, mas que também não incomoda. conta com nomes como Zhang Yi, Liu Haocun, Qin Hailu, Ni Dahong e Yawen Zhu. O que se sai melhor é Yu Hewei no papel de infiltrado no alto escalão inimigo.
A trilha sonora tem seus momentos, principalmente na última cena.
Luta Pela Liberdade não é o melhor filme de Zhang Yimou, mas não é nem de longe o seu pior também. Entre erros e acertos, ele se define bem em não querer ser mais do que é.
Filme honesto que não esconde a mensagem que quer passar e que também não se resume a ser só um panfleto.
Luta Pela Liberdade estreia em 18 de agosto nos cinemas brasileiros.
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