Críticas | O Filho de Mil Homens
Dirigido e escrito por Daniel Rezende, “O Filho de Mil Homens” estreia em 19 de novembro no catálogo da Netflix.

Em uma sociedade de amores líquidos, de fragilidades de laços humanos, se apegar a uma história que reflete sobre como a humanidade caminha nessa busca por conexões que são, facilmente, reduzidas a farelos.
Baseado no livro de Valter Hugo Mãe, O Filho de Mil Homens conta a história de Crisóstomo (Rodrigo Santoro), um pescador de 40 anos que sonha em ter um filho. Sua vida se transforma ao conhecer Camilo (Miguel Martines), um menino órfão que passa a fazer parte de sua rotina. O caminho dos dois se cruza com o de Isaura (Rebecca Jamir), uma mulher na busca de fugir da própria dor, e Antonino (Johnny Massaro), rapaz incompreendido, e, desta forma, aprendem o verdadeiro significado de família.
Sob o roteiro e direção de Daniel Rezende (Turma da Mônica – Laços), o filme é extremamente poético e traz de maneira singular o texto de Hugo Mãe. Através da narração potente de Zezé Motta, busca trazer uma conversa sobre afeto e solidão, sobre como somos parte de tantos que, de alguma forma, passaram por nossa trajetória – seja pelo acaso, destino ou apenas coincidências.
A estética de Rezende transcende e deixa tudo em tom etéreo. O som do mar que acalma Crisóstomo faz parte dessa fábula e de uma costura bem acertada pelo diretor em seu projeto mais sonhado (como deixa evidente nos créditos finais). As ondas se tornam um abraço, uma proteção e, conforme a luz laranja engrandece, melhor compreendemos seus significados.
Em 126 minutos, Santoro arrebata com uma interpretação tão sensível. Jamir e Massaro se complementam em suas narrativas, com ambas personagens inseridas em enredos de preconceitos. Juliana Caldas é outro destaque, com uma personagem invisível para muitos e com uma carga emocional dilacerante, enquanto o jovem Martines consegue imprimir, e construir, uma relação aos poucos com o núcleo principal – na busca pelo afeto nessa vida tão jovem e com tantas perdas.
Assim, O Filho de Mil Homens possui uma aura, uma delicadeza ao contar a história de Crisóstomo em tela. Primoroso, o filme traz uma narrativa poética sobre o que é ser uma família, navegando por um espaço-tempo sobre afeto, solidão que cresce no silêncio e na voz de Motta. Uma contemplação sobre o pertencimento e a nossa trajetória.
O Filho de Mil Homens estreia em 19 de novembro no catálogo da Netflix. O filme terá exibições em cinemas selecionados a partir de 30 de novembro no Brasil.
