Críticas | Senna
Produzida com apoio da família do piloto, “Senna” estreou em 29 de novembro no catálogo da Netflix.
Retratar histórias reais são desafiadoras no audiovisual. Além da necessidade de recortes, a produção precisa fazer jus ao que está no imaginário popular e ser condizente com o que o público conhece – mesmo que distorça parte dos acontecimentos.
Senna, então, possui essa dificuldade. Contando com apoio da família de Ayrton Senna, a minissérie mostra desde o começo do piloto do kart, passando pela mudança na Inglaterra para competir pela Fórmula Ford, sua ascensão dentro da Fórmula 1, até sua morte durante o Grande Prêmio de San Marino, em Ímola, em 1994.
É inegável o trabalho primoroso de Vicente Amorim e Julia Rezende, os diretores dos seis episódios. A reconstituição das corridas, em cenas que mostram a tensão, a maneira como Ayrton (interpretado por Gabriel Leone) sentia cada curva, levam o telespectador para dentro daquele cenário e, para aqueles que assistiram, deve ser uma das partes mais incríveis dentro dos capítulos.
Porém, os roteiros mostram uma inconsistência que está relaciona da ao apoio da família ao projeto. Apesar de necessário para qualquer história que mergulha em trajetórias de pessoas importantes, muitas vezes existem interferências para agradar e afagar qualquer polêmica.
A decisão de focar em 1989 e 1990, ao invés de 1993 e 1994, por exemplo, deve passar por isso. E, obviamente, podemos falar das questões de relacionamentos que continua a ser pauta dentro da história do tricampeão de Fórmula 1 – e a decisão da família em excluir Adrianne Galisteu (vivida por Julia Foti) na série limitada.
É esperado que, na tentativa de contar a história de um ídolo que uniu o país pós-Ditadura Militar (1964-1985), ao menos trouxesse uma igualdade dentro dos relacionamentos amorosos, mas vimos o quanto ainda fingem que não aconteceu, querendo, novamente, apagar parte do que aconteceu por pura birra. Assim, era melhor ter excluído essas partes, deixando apenas Lilian (Alice Wegmann), a esposa de Ayrton que viajou com ele para a Inglaterra quando competiu pela Fórmula Ford.
Em outros pontos, a minissérie explora muito bem algumas das inimizades, amizade e seus embates com a FIA – e cria personagens para dar dimensões para o piloto. Sua rivalidade com Alain Prost (Matt Mella), a maneira como desafiou Balestre (Arnaud Viard) e, durante o Grande Prêmio de San Marino, estava prestes a restituir a Associação de Pilotos para que fossem ouvidos após o acidente de Rubens Barrichello e a morte de Roland Ratzenberger durante os treinos livres.
A amizade com Galvão Bueno (Gabriel Louchard) poderia ser uma parte central da humanização do piloto e, as conversas com Laura (Kaya Scodelario), uma jornalista fictícia, conseguem dar uma equilibrada nos seis capítulos e ser um ponto de falar parte dos acontecimentos, vozeirando atitudes e como enxergar a carreira de Ayrton fora do núcleo brasileiro.
Assim, Senna mergulha na trajetória do tricampeão de Fórmula 1 para celebrar sua história 30 anos após sua trágica morte. Apesar de inconsistência dentro dos roteiros, e o controle da família em apresentar o que deseja, a série limitada é emocionante para fãs – e, também, aqueles que não puderam acompanhar essa história -, celebrando um herói nacional e, também, alguém lembrado internacionalmente.
Senna estreou em 29 de novembro no catálogo da Netflix.
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