Críticas | Ainda Estou Aqui

“Ainda Estou Aqui” estreia em 7 de novembro nos cinemas brasileiros.

Fernanda Torres é a protagonista do filme de Walter Salles. (Foto: Reprodução)

O filósofo irlandês Edmund Burke escreveu: “Um povo que não conhece sua História está fadado a repeti-la”. E, por mais fácil que seja associá-la aos acontecimentos de seu país, é importante levá-la para os aspectos mais profundos da humanidade, com a constância de conflitos e a forma como enxergam o mundo.

Assim, é sempre importante apresentar produções brasileiras que mostrem acontecimentos que mancharam, que machucaram a nossa existência. Mergulhar em assuntos que cutuquem, que estabeleçam diálogos que envolvam o público e mostrem os terrores de um momento, são fundamentais para proporcionar uma leitura completa dos acontecimentos – e razões pelas quais jamais devemos retornar para este lugar.

Dirigido por Walter Salles, Ainda Estou Aqui é inspirado no livro homônimo escrito por Marcelo Rubens Paiva, que recontou a história de sua família, sobre o desaparecimento do pai, o ex-deputado Rubens Paiva (vivido por Selton Mello no filme) durante a Ditadura Militar, e a resiliência da mãe, Eunice Paiva (Fernanda Torres).

Entre as muitas palavras possíveis para descrever o longa-metragem, “memória” seja a que melhor se encaixa. Lembrar de uma época terrível, da qual ainda não ocorreram punições; lembrar de uma história que ainda ressoa com o público brasileiro. Salles mostra isso em sua direção tão delicada, com uma melancolia que percorre o longa-metragem inteiro.

Salles utiliza a iluminação como forma de contar essa história, também. No início, tudo é solar, com a casa sendo extremamente importante para tudo que acontece, principalmente para construir a vida familiar. A partir do momento que Paiva é levado, os tons sóbrios começam a aparecer em tela, a música cessa e a casa se fecha. É uma parte poética, e simples, para compreender esse mergulho na história da família.

Torres é uma força singular dentro dessa história. Sua atuação como Eunice é quase mágica dentro da tela, magnética desde o início. A maneira que Salles construiu a narrativa, ajuda a trazer essa força da atriz durante os 137 minutos do filme, com cenas potentes em seus diálogos que mostram a verdadeira situação do país e a sua resistência – e persistência – em encontrar respostas.

É inegável que é o filme de Torres. Porém, o elenco inteiro, desde a rebeldia jovem lideradas por Valentina Herszage, passando pelos amigos da família (com Dan Stulbach, Humberto Carrão e Maeve Jinkings, por exemplo), sustentam a trama com suas atuações, mesmo que por passagens.

Ainda Estou Aqui é um dos projetos mais honestos, que te deixam sem fôlego, dos últimos tempos. É uma maestria em cena que te deixa emocionado em momentos sem diálogos, com sons ambientes, que te faz mergulhar em um pedaço da história do país, que explora a resiliência de uma mulher cuja vida é transformada quando uma rachadura se abre em seu âmbito familiar.

Salles, Torres, Mello e todos os envolvidos estão envoltos de algo que extrapola fronteiras, puxados pela tristeza construída para o espectador de maneira brilhante. Percebemos todos os sentimentos que carregam essa história durante os 137 minutos – e no

Ainda Estou Aqui estreia em 7 de novembro nos cinemas brasileiros.

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