Críticas | Os Quatro da Candelária

Criada por Luís Lomenha, “Os Quatro da Candelária” estreou em 30 de outubro no catálogo da Netflix.

Foto: Reprodução

Adaptar uma história real, mesmo com elementos ficcionais, é um dos maiores desafios dentro do audiovisual. Retratar e fazer jus aos acontecimentos é algo complicado, com potencial para diminuir a história ou embaralhar no desejo da narrativa.

Assim, trazer uma dramatização da Chacina da Candelária se torna ainda mais desafiador quando lembramos o momento que estava inserido – e como existe o desejo de sempre esquecerem essas histórias.

Os Quatro da Candelária é uma ficção dos acontecimentos que antecederam a chacina da Candelária em 23 de julho de 1993. A minissérie acompanha quatro crianças e adolescentes, 36 horas antes da tragédia, com cada capítulo focado nos desejos de Douglas (Samuel Silva), Sete (Patrick Congo), Pipoca (Wendy Queiroz) e Jesus (Andrei Marques).

Criada por Luis Lomenha, o seriado é uma maneira de dar rosto as mais de 70 crianças e adolescentes que dormiam ao redor da Igreja da Candelária, sendo que oito morreram durante o ataque – e, também, mais de 40 que faleceram em anos seguintes também pela violência exacerbada. É um artifício narrativo que ajuda a contar essas histórias e mostrar que tinham ambições, e buscavam sair das ruas, mesmo sem a ajuda do Estado.

A decisão de trazer cânticos umbandistas em alguns dos cenários envolvendo os sonhos deles, eleva o que acontece em cena – mesmo que seja imaginativo. É uma forma de costurar as histórias e cementar dentro de uma realidade religiosa imperceptível para muitos, que nem desconfiam que canções podem trazer versos conhecidos dentro da Umbanda.

Outra decisão acertada é mostrar cada um dos sonhos de seus protagonistas. Seja um reencontro com pais, de assumirem posições na Marinha, reencontrar a mãe ou aflorar uma paixão, as personagens conhecem seus anseios de forma lúdica, para que os momentos finais se mostrem mais desesperadores. A direção de Lomenha e Márcia Faria é precisa e consegue mostrar as realidades de cada um dos personagens que aparecem, e, em cada episódio, conhecemos além do que as 36 horas prometem.

Assim, Os Quatro da Candelária é uma representação do que seria algumas das vítimas, seja aqueles que morreram no local ou anos depois. É a maneira mais bela de mostrar que foram sonhos interrompidos, ambições dilaceradas, para não nos esquecer dessas histórias e a impunidade que envolve os condenados mesmo 30 anos depois.

Os Quatro da Candelária estreou em 30 de outubro no catálogo da Netflix.

Nota:

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