Críticas | Bridgerton – 3ª temporada (Parte 2)

A terceira temporada de “Bridgerton” já está disponível na íntegra pela Netflix.

bRIDGERTON Crítica
Foto: Reprodução

Existem momentos dentro de adaptações que vão divergir o públicos. Enquanto muitos acreditam que a fidelidade ao material original seja essencial para que seja algo digno, outros conseguem compreender que ambos podem coexistir e serem diferentes.

No caso de Bridgerton, aconteceram os dois casos. A primeira temporada da série seguiu boa parte dos arcos gerais do livro de Julia Quinn, enquanto mostrou mais da dinâmica familiar e de amizades entre personagens, se mostrando o que é ser uma série de ensemble. Já a segunda temporada, lançada em março de 2022, a situação foi diferente e, por mais que o casal principal se manteve o mesmo, algumas cenas mostraram algo mais separado da obra original (o que causou um burburinho entre os fãs).

Então chegamos na terceira temporada. Colin (Luke Newton) e Penelope (Nicola Coughlan) são queridos do público leitor e, dificilmente, sua história poderia ser completamente apagada, já que ambos estão na série desde o início. É verdade que o adiamento dessa história significou algumas perdas narrativas que poderiam ser exploradas e realmente abraçadas – e o que mais gosto dentro do livro. A química entre os dois sempre foi algo inabalável e construída tão fortemente ao lado das dinâmicas familiares, e os fãs não devem ter críticas quanto a isso.

Porém, outros problemas surgem quanto a isso – e fãs estão corretos em sentir algumas coisas.

É fato que a sociedade do século XIX é excludente. Ao desafiar a lógica e colocar uma sociedade onde negros possuem poder (evidenciado por Rainha Charlotte, vivida por Golda Rosheuvel), a produção de Bridgerton mostra que algumas situações se tornam mais lúdicas, fantasiosas, criando uma mitologia própria para suas narrativas.

Porém, isso não excluí o quão patriarcal é aquela época, onde títulos e herdeiros importam mais que a própria felicidade dentro do ton – e casais formados por amor são escassos. Assim, ao apresentar Michaela Stirling (Masali Baduza), mudando o gênero do personagem do livro, e um fan service envolvendo a sexualidade de Benedict (Luke Thompson), é possível que enfrentem resistência daqueles mais  apegados (e alguns, como eu, que desejam apenas que siga as próprias narrativas criadas).

São diferentes os momentos que a segunda parte da terceira temporada de Bridgerton deseja apenas mostrar algo e não desenvolver. Enquanto seu arco amoroso principal é belíssimo, com cenas de tensão e paixão que exploram a química entre Newton e Coughlan, os capítulos finais (lançados hoje, 13 de junho, na Netflix) mostram que Jess Browell não quis se ater nem a própria mitologia, ao não compreender as problemáticas que vão enfrentar ao não darem a única coisa que importa no gênero de romance: um final feliz.

Não entenda mal. Há diferentes livros de romances de época que exploram relações sáficas e aquileanas de maneira satisfatória, que mudam as próprias regras. Bridgerton não é um desses, a partir do momento que o antigo showrunner, Chris van Dusen, conversou extensivamente com publicações sobre o que a introdução de Lorde Granville (Julian Ovenden) no arco de Benedict na primeira temporada, e que precisava esconder seus sentimentos e viver em relacionamento de fachada. Enviar Francesca (Hannah Dodd) à Escócia, mostrar suas dúvidas pelo amor que a cortejou a temporada inteira por um beijo, talvez mostre uma virada um tanto complexa para o público normal – e, os fãs que se sentem frustrados, também, já que o arco dela implica diferentes níveis e que muitos não querem entender o macro do momento.

Sim, já há aqueles que estão partindo para ataques racistas e homofóbicos, e isso não é para acontecer. A produção da série é conhecida por ter problemas de estrutura e acolhimento envolvendo seus protagonistas negros, e não ajudará em nada com a situação criada, por exemplo, já que, também, as produções de Shonda Rhimes não são exatamente conhecidas por respeitarem seus personagens da comunidade LGBTQIA+.

E ainda nem contar sobre outros arcos, onde basicamente enrolasse para ter o mínimo de diálogos possíveis, com furos gigantescos envolvendo as viagens de Anthony (Jonathan Bailey) e Kate (Simone Ashley), por exemplo. O que exatamente o arco de Will (Martins Imhangbe) e Alice (Emma Naomi) entrega, por exemplo? Por qual razão não se explorou mais o relacionamento conturbado entre Lady Danbury (Adjoa Andoh) e seu irmão? Tudo se tornará munição para algo que deveria ser apenas uma diversão para que seja entregue enredos que fujam da própria mitologia criada e o que o material base proporciona (e isso, também, recaí no colo de Julia Quinn e como acordou os termos).

No fim, a terceira temporada de Bridgerton é belíssima para os fãs de Polin e muito dúbia para os outros arcos. E não aceitarem críticas (que já ocorreram ao mudar a ordem dos livros e a passividade de Quinn com seu próprio trabalho), só mostrará que não é exatamente sobre o que venderam, mas tentar buscar uma representatividade que pode, sim, machucar e mostrar uma felicidade que não é plena, não é o que o gênero propõe. Ao trazerem esses momentos, quando a primeira parte foi repleta de paixão e os principais problemas se resumiram as unhas, maquiagem, figurino e cabelos, eles desejam apenas brincar com possíveis sentimentos – e a espera de dois anos por temporada ainda acarreta uma tremenda falta de compromisso com o próprio trabalho e o público.

Nota:


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