Primeira temporada de “Falando a Real” termina em 24 de março pela Apple TV+.
Poucas vezes vemos representações de luto de maneira orgânica no audiovisual. Geralmente somos bombardeados com personagens que não lidam com o sentimento da perda em diferentes fases e como afeta relacionamentos, mesmo que seja algo difícil de ser classificado em um primeiro momento. Não existe maneira correta de lidar com o luto, cada um irá sentir diferentemente – e depende muito de como e quem se foi.
Em Falando a Real (Shrinking, no título em inglês) temos uma bela forma de dialogar sobre o assunto. Criada por Brett Goldstein, Bill Lawrence e Jason Segel, a série do Apple TV+ segue um terapeuta que, após a morte prematura da esposa em um acidente de carro há um ano, começa a falar verdades para seus pacientes, esquecendo da ética e trazendo mudanças em suas vidas – e também na sua (nem sempre positivas).
O que mais me agrada nessa série é como o sentimento é apresentado em tela. Além de Jim (Segel), outros personagens também estão lidando com perdas e outros problemas pessoais, mostrando que existem inúmeras situações onde o luto é peça central.
Paul (Harrison Ford), por exemplo, precisa ser além de um ombro amigo e luta para compreender sua vida com Parkinson; Gaby (Jessica Williams) perdeu a melhor amiga e ainda lida com separação; Alice () é uma adolescente que, além de ter perdido a mãe, precisa entender onde se encontra no mundo e como ajudar o pai a sair de um estado profundo de negação.
Com 2/3 dos criadores de Ted Lasso, a série consegue trazer a leveza em um assunto sério e extremamente brutal. Dialogar sobre o luto, perdas diversas e até reconsiderações em âmbitos que antes estavam completamente conquistados, são apenas alguns dos tópicos abordados e que mostram que é possível realizar produções que conversem genuinamente com crescimento de personagem.
Falando a Real é um experimento, também, sobre a mente humana. Com três terapeutas e alguns pacientes dentro de seus personagens principais, a produção demonstra interesse para analisar os espaços ocupados pela mente e que jamais será tarde para recomeços, novas amizades e tudo bem o sentimento negativo aparecer às vezes (que a vida é extremamente complexa, com altos e baixos para nos jogar em uma montanha-russa).
Um dos projetos recentes mais sinceros, Falando a Real é possível de ser assistida em formato de maratona (o famoso binge-watch) ou aos poucos, com episódios de no máximo 40 minutos. A primeira temporada termina a na próxima sexta-feira, 24 de março, na Apple TV+ e a série está renovada para a segunda temporada.