Críticas | Ela Disse
“Ela Disse” estreia em 8 de dezembro nos cinemas brasileiros.

Longas-metragens inspirados no jornalismo, são comuns. Seja Todos os Homens do Presidente (1976) ou Spotlight – Segredos Revelados (2015), o principal intuito é sempre trazer o processo envolvendo os escândalos, sempre tentando honrar as vítimas ou proteger as fontes dos processos mais duros da sociedade.
Em Ela Disse (She Said, no título original), somos apresentadas as jornalistas do The New York Times Megan Twohey (Carey Mulligan) e Jodi Kantor (Zoe Kazan), responsáveis pela investigação que trouxe à tona os primeiros casos de abuso de poder e sexual envolvendo o produtor Harvey Weinstein (hoje condenado a mais de 20 anos de prisão em Nova Iorque e enfrentando processos judiciais em Los Angeles e em Londres). Após a publicação do artigo, em outubro de 2017, mais de 80 mulheres trabalhando na indústria cinematográfica confirmaram a conduta de Weinstein, e iniciou a era #MeToo dentro de Hollywood – algo que mudou, significavelmente, como o principal centro audiovisual trabalha atualmente.
Kazan e Mulligan se confirmam como potências de sua geração, com a direção de Maria Schrader mostrando os dilemas profissionais – e pessoais – de suas personagens com carinho. Patricia Clarkson e Andre Braugher são os outros dois pilares do filme, com Ashley Judd e Gwyneth Paltrow (apenas com sua voz) sendo importantes para a credibilidade do que está sendo contado, principalmente por ter mulheres “esquecidas”, como assistentes, entre as vítimas de Weinstein.
E, mesmo com uma narrativa que envolve suficientemente a audiência, com cenas que mostram parcialmente o sofrimento das vítimas (incluindo gravação que enoja ainda mais a situação), Ela Disse talvez não reverbere da maneira deseja por esquecer que Hollywood não melhorou como a imagem tenta mostrar. O #MeToo é extremamente falho, com questionamentos constantes sobre palavras de vítimas por ainda tentarem se solidarizarem com “amigos” ou “conhecidos”, alegando conhecer profundamente a pessoa – e não somente o que ela deseja que seja passado.
Sim, é importante notar que Hollywood está realmente tentando trazer mudanças após os casos – mesmo com diferentes nomes da indústria terem conhecimento prévio das ações do produtor, e varrerem para baixo do tapete por décadas. Só o fato de Brad Pitt (que está em caso judicial envolvendo seu divórcio de Angelina Jolie, incluindo altercações com filhos) estar no time de produção, diz algo sobre querer limpar imagens e colocar a si como protagonista da história, esquecendo de ser provável que vítimas sejam novamente esquecidas caso aconteça algum reconhecimento pelo trabalho realizado.
No fim, Ela Disse está disposto a vocalizar meses de investigação, sobrevoando o trabalho realizado por Twoney sobre casos de assédio envolvendo Donald Trump (então candidato à Presidência dos EUA) e a negligência do FOX News com casos semelhantes de Bill O’Reilly, mostrando um sistema mais opressor do imaginável por muitos fora da indústria. É a famosa ponta do iceberg, quando há algo muito pior embaixo da superfície, mas que talvez seja necessário para conseguir compreender suas dimensões e ações posteriores.
Ela Disse estreia em 8 de dezembro nos cinemas brasileiros.