Diretor foi o primeiro cineasta senegalês a ser reconhecido internacionalmente.
Dentre as milhares de coisas das quais a colonização de um país causa ao seu povo, é a de desacelerar seu desenvolvimento social e cultural por décadas. Assim, coisas que parecem simples para pessoas de outros lugares se tornam um símbolo de batalha para o povo daquele país saqueado.
Em 1963, apenas três anos após a Independência senegalesa, Ousmane Sembène fez O Carroceiro (Borom sarret), que seria o primeiro filme senegalês a ganhar reconhecimento internacional.
Na época, o cinema já existia a 68 anos, mas no Senegal só a oito.
Em O Carroceiro, somos apresentados a um homem que trabalha transportando pessoas e seus pertences por Dakar, mas que não recebe dinheiro por conta das condições financeiras de seus clientes.
As pessoas usam o serviço dele para ir até a cidade em busca de emprego mas voltam sem conseguir nada e sem dinheiro para pagar o transporte.
O filme tem 18 minutos e o tempo todo ouvimos os pensamentos do carroceiro e sua desilusão com a vida moderna, sua vergonha de não conseguir nada para alimentar sua mulher e filhos, a vergonha dele perante seus ancestrais guerreiros e a desconfiança com os ricos, que depois de ser enganado por um, desabafa: “Ele sabe ler, então ele sabe mentir!”.
Restaurado pela World Cinema Project, criada por Martin Scorscese, com o objetivo de manter a memória do cinema viva e dar holofotes a filmes “esquecidos”, O Carroceiro não é o único filme de Ousmane que ganhou uma nova vida.
Seu primeiro longa-metragem, A Negra De… (La Noire de…), é um dos filmes mais importantes de toda a África e até seu título tem algo a nos dizer.
Acompanhamos Thèrése, uma mulher muito pobre que consegue o emprego de babá para uma família francesa. Longe de casa, sem saber ler nem escrever (e precisando de dinheiro para viver) ela logo se vê em uma situação de escravidão para a família. Em determinada cena, ela diz que a França para ela é “do quarto para o banheiro e do banheiro para a sala”.
A raiva anticolonial é sentida durante a uma hora de duração. A câmera em primeira-pessoa em cenas chave nos dão a sensação de claustrofobia e opressão e a narração de fundo complementa o barril de pólvora que é construído a cada segundo.
Esses dois filmes são uma ótima introdução ao cinema revolucionário e anticolonial de Ousmane Semène, e só pela importância histórica que eles carregam já fazem dele um dos diretores mais importantes do século XX.
Ambos os filmes estão disponíveis pela Mubi.
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