Críticas | Drive My Car
“Drive My Car” está disponível pelo MUBI no Brasil.
“O que é o luto, se não o amor que perdura?”
Essa frase, dita no oitavo episódio da série WandaVision, viralizou na internet no ano passado por simplificar um dos sentimentos mais complexos do ser humano e algo que lutamos para compreender até hoje: a morte de alguém querido.
Drive My Car, novo filme do diretor japonês Ryusuke Hamaguchi, baseado em uma obra de Haruki Murakami, destrincha esse tema em três horas onde o silêncio e a contemplação são tão importantes quanto os maravilhosos diálogos.
Esse não é o único filme que Hamaguchi lançou em 2021. Alguns meses antes, ele havia lançado o também ótimo A Roda do Destino, um longa-metragem totalmente centrado em diálogos onde coincidências, segredos e imaginação dão as cartas.
Tudo isso está presente em Drive My Car, mas trabalhado de uma forma muito mais calma como percebemos pelo prólogo de 40 minutos onde ele estabelece o protagonista, Yusuke Kafuku, interpretado pelo brilhante Hideotoshi Nishijima (que entrega uma das melhores atuações do ano). Ele é elegante, frio, de poucas palavras e com um olhar de diversas nuances.
A entrada dos coadjuvantes é feita de forma calma, orgânica e o estabelecimento das relações não poderia ser melhor. Misaki (Toko Miura) começa quase desprovida de falas e vai crescendo a cada cena. Já Kõshi Takatsuki tem aparições no prólogo, continua misterioso mas vai ganhando camadas e camadas com o decorrer do tempo.
Em “um dos” clímax do filme, os três protagonizam a melhor cena que o cinema proporcionou no ano e é apenas um dos momentos inesquecíveis do filme.
Falar de Drive My Car é ter que elogiar desde os grandes momentos até os pequenos detalhes.
O carro é um personagem do filme tanto quanto as pessoas que o ocupam, como mostra uma cena chave do filme onde dois personagens estão tendo um momento importante, com um corte para o carro estacionado em uma imagem estática.
A edição é simplesmente impecável e nunca corta quando não deve. Os planos são longos e a edição acompanha a contemplação que o diretor constrói. Tem uma certa cena envolvendo uma porta que é de se admirar a delicadeza nos menores detalhes.
A trilha sonora aparece só de vez em quando, mas nesse ponto do texto nem preciso dizer que ela é incrível também né?
Existem diversas maneiras de falar sobre o luto e Hamaguchi escolhe a contemplação e o silêncio para desenvolver seus personagens com imagens inesquecíveis e cenas marcantes, e quando eles falam, se abrem como flores mostrando suas feridas, arrependimentos e desejos, chegando à conclusão que por pior que uma coisa pode ter sido, a gente ainda precisa acordar no outro dia e continuar a viver.
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