Críticas | Spencer

“Spencer”, ou a odisseia de Diana.

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Kristen Stweart protagoniza filme. (Foto: Reprodução)

A história baseada em uma tragédia real narrada por Larraín surge em boa hora e propõe discussões interessantes acerca de assuntos relevantes do século XXI, contudo alguns pontos deixam a desejar.

Discreto, lento e sutil. Essas são as palavras mais adequadas para descrever as quase duas horas do longa-metragem que vem arrebatando as críticas ao redor do mundo.

A história se passa durante a celebração de natal da família real inglesa de 1991 em Sandrigham, e não tem qualquer pretensão de assimilar-se com a realidade. Diana e a família real são usados pelo diretor e roteirista como pilares para os assuntos que ele deseja abordar. Mantenho aqui minha comparação inicial de Spencer ao texto do autor grego Homero, pois assim como o grego narra as dificuldades da volta para casa após 10 anos de guerra em Troia, Larraín narra a volta de Diana para a sua morada de infância, anos depois de sua mudança para Londres e integração ao alto escalão a da família real.

De início, o que primeiro encanta o espectador é o primor técnico do filme. A fotografia e a trilha sonora basicamente tornam a experiência ainda mais imersiva, com os tons melancólicos retratando as tribulações da vida da princesa e a música intensificando o clima. Em algumas cenas, onde não existem diálogos, fica ainda mais evidente o quão bem executada é a trilha sonora aqui, Jonny Greenwood é capaz de nos fazer sentir tudo o que Lady Di sente, apenas com suas composições arrebatadoras e de tirar o fôlego. Durante muitos momentos me encontrei arrepiado e me segurando a cadeira do cinema, inerte e preso a tela, cheio de agonia com os sentimentos da protagonista, sendo este mais um ponto positivo da atuação de Kristen Stewart, e preso a música envolvente de Greenwood.

Em seguida, nota-se a presença de Diana, que admito ter me incomodado um pouco no início. Diferente de Emma Corrin (The Crown), Kristen pouco se assemelha fisicamente a Diana, e o espectador acostumado, tanto com a imagem real da Princesa de Gales, quanto com sua representação na série da Netflix pode encontrar dificuldade para se conectar com a Diana de Stewart no início. Contudo, a atriz carrega o filme nas costas, com tomadas fechadas em seu rosto, cenas em que diálogos tornam-se desnecessários, devido a sua grande expressividade e um roteiro completamente centrado em sua personagem, o trabalho dela aqui realmente está a altura de sua indicação ao Oscar, apesar de alguns pontos negativos ao longo da narrativa, como é o caso da cena onde ela discute com Charles (Jack Farthing), mas nada que desmereça o trabalho incrível que Stewart exibiu neste filme no geral. Mas, o mesmo não pode ser dito do roteiro.

Aqui está o grande erro de Larraín, que acaba não sendo tão grande assim. Usando de muita abstração, Spencer muitas vezes deixa o expectador confuso em sua narrativa, trazendo intervenções que seriam uma espécie de fluxo de pensamento da protagonista, que de início mais parecem pintar uma Diana completamente descontrolada, do que retratar doenças mentais de fato. Contudo, ao perceber a utilidade deste recurso narrativo passei a apreciá-lo um pouco mais, mesmo que muitas vezes este pareça apenas gerar um erro de continuidade no filme. Além disso, a personagem Maggie (Sally Hawkins) passa a impressão de estar mal colocada na história, perdida na narrativa, servindo claramente como uma espécie de alívio para Diana, como se toda a sua existência servisse apenas para que a princesa desabafasse. Obviamente, dentro da narrativa Maggie foi criada com este propósito, entretanto o movimento técnico do roteiro soa óbvio demais e acaba criando alguns excessos ao longo da obra.

Apesar disso, aponto que Spencer é, sim, um dos melhores filmes do ano, e sua falta na categoria de “Melhor Filme” do Oscar é sentida, assim como a falta de Pablo Larraín na categoria de “Melhor Direção”, errando muito menos que acertando, o filme entrega um retrato visceral acerca de doenças mentais e transtornos alimentares, com uma performance arrebatadora, um visual incrível e marcante, figurinos excelentes e uma trilha sonora de tirar o fôlego. Definitivamente vale conferir Spencer.

Spencer foi lançado em 3 de fevereiro nos cinemas brasileiros.


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Luis Abreu Teixeira

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