Críticas | jeen-yuhs

Série documental sobre Kanye West está disponível pela Netflix.

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(Foto: Reprodução)

Nos últimos meses (ou no último ano, mais precisamente) temos acompanhado uma pequena era de ouro de documentários musicais. No meio de 2021, o diretor Todd Haynes correu festivais com o seu maravilhoso documentário The Velvet Underground, e no fim do ano passado, Peter Jackson nos presenteou com 8 horas dos Beatles de maneira crua em Get Back (leia a crítica aqui).

É 2022, e agora é a vez de Coodie Simmons e Chike Ozah lançarem jeen-yuhs, documentário que acompanha durante 20 anos a trajetória de Kanye West e do próprio Coodie.

Enquanto a primeira cena de Get Back é a história dos Beatles até chegar o ano de 1969, jeen-yuhs segue o caminho contrário e mostra primeiro Kanye em 2020, na República Dominicana, falando sobre sua candidatura para presidente dos Estados Unidos, antes de voltarmos no tempo e observarmos a trajetória do adolescente que fazia beats para rappers locais em Chicago ficar bilionário e ter ideias megalomaníacas.

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Coodie Simmons, Kanye West e Chike Ozah. (Foto: Reprodução)

O primeiro episódio, ou “ato”, como a série diz, é impecável. Vemos as mais diversas facetas de Kanye e é talvez a peça de mídia mais humana já feita sobre o mesmo.

Ele tenta se provar de qualquer jeito e ninguém o leva a sério, a não ser como beatmaker, que é como ele ganhou fama e chegou a produzir metade do álbum The Blueprint, do JAY-Z, sendo até hoje considerado um clássico e um dos melhores discos já feitos no gênero. Isso mudou a vida dele como o próprio diz, mas quando ele “invade” a gravadora e toca a hoje icônica “All Falls Down”, ninguém da bola para ele. O recado era claro: ele deveria se manter como beatmaker e não tentar a carreira de rapper.

O ponto alto do ato (e pode-se dizer, da série) é a conversa entre ele e Donda West, sua mãe. É emocionante, confortante e inspirador.

No segundo ato, intitulado “Propósito”, Kanye já tem o contrato com a gravadora que ele tanto quis, mas os problemas não diminuem, mas aumentam de tamanho. Enquanto gravava o seu álbum de estreia, ele sofre um acidente de carro e fica hospitalizado com a mandíbula quebrada.

Em uma carreira cheia de possíveis finais, esse parecia ser o momento em que a carreira dele iria acabar sem nem mesmo ter começado, mas quem conhece a história dele sabe que o acidente foi um ponto-chave em tudo.

Com arames em sua boca, ele criou e gravou a também clássica “Through the Wire” em que fala justamente de seu acidente.

É absurdo quantas coisas dão erradas e mesmo assim ele vai dando um jeito e se virando antes ter o nome que todos conhecemos hoje.

O cliff-hanger para o terceiro ato é fenomenal e faz você querer ver imediatamente.

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(Foto: Reprodução)

O ato 3 é o mais fraco em relação aos outros 2, mas é compreensível pela quantidade de tempo que Coodie e Kanye se mantiveram afastados.

Essa distância poderia ter sido suprida se ele falasse mais da visão dele sobre as opiniões e os incontáveis atos polêmicos que Kanye fez no fim da década de 2000 e início da de 2010, mas ao invés disso ele coloca pequenos clipes com essas opiniões e atos e retoma com as filmagens com o restante da trajetória. Ele arranha sobre a bipolaridade de West e a polêmica campanha presidencial, mas não se aprofunda.

Ele prefere mostrar a incessante vontade de criar dele. Viagens para a China, São Francisco, Wyoming, desfiles, designs e produção de moda, rimas improvisadas no sofá e no avião, encontros com artistas de diversas áreas…

É importante ressaltar que jeen-yuhs não é só sobre Kanye West. São duas histórias inacreditáveis que se mesclam.

Coodie Simmons, aos 24 anos, largou a família, os amigos e o emprego que tinha em Chicago para seguir e filmar o Kanye quando ele tinha apenas 17 anos porque “sabia” que em algum momento ele se tornaria famoso.

Nem nos maiores sonhos do diretor ele poderia imaginar 1% do que Kanye West se tornou duas décadas depois, mas eu firmemente acredito que Kanye tinha pelo menos um vislumbre porque é fora do normal o quanto ele acredita nele mesmo e o quanto ele batalha por isso.

Jeen-yuhs não é um documentário imparcial (como nenhum é). Cada vez que Kanye toma uma decisão que muda a vida dele, toca uma música angelical como se fosse um sinal divino e a narração mostra o carinho que o Coodie sempre teve por ele. Mas, sem dúvidas, são 4 horas e meia que ficarão na cabeça de quem assiste, mesmo que a pessoa tenha antipatia pelo Ye.

Para quem gosta dele, é nostálgico e com dezenas cenas de arrepiar. Para quem não gosta, é um documentário muito humano sobre uma figura que com o passar dos anos teve sua imagem desumanizada.

Para ambos é extremamente inspirador.

Apesar de ter estreado há três semanas, a série já parece defasada. Desde fevereiro, o Kanye já causou polêmica ao brigar online com o atual namorado da sua ex-esposa, lançou um aparelho de música onde permite aos donos personalizar o instrumental de suas músicas e junto dele lançou o álbum DONDA 2.

Jeen-Yuhs precisa ser anual para conseguir acompanhar a vida de um dos artistas mais geniais e com certeza o mais polêmico da história.


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Lucas Vinícius

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