Críticas | A Pior Pessoa do Mundo

“A Pior Pessoa do Mundo” estreou em 24 de março nos cinemas brasileiros.

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Filme é dirigido por Joachim Trier. (Foto: Reprodução)

O que é mais contemporâneo do que jovens incertos sobre o futuro e não sabendo o que fazer com a própria vida?

Antoine Doinel, personagem de Os Incompreendidos (1959), vivido por Jean Pierre Léaud, foge da escola, de casa, pratica furtos e não parece ter um futuro promissor. Já Delphine, de O Raio Verde (1986), busca o equilíbrio entre querer ficar sozinha e querer viver um romance. Quando ela está sozinha ela quer estar com alguém, mas ela não quer só estar com alguém, ela quer estar com alguém que ela goste e se sinta bem, mas enquanto não acha essa pessoa especial ela acaba colocando a culpa em si mesma, dizendo em determinado momento “Estamos falando sobre mostrar as coisas, e eu não tenho nada para mostrar”.

Parte desses problemas estão presentes em Frances Ha (2012), um dos filmes mais icônicos sobre jovens procurando seu lugar no mundo e onde a personagem vivida por Greta Gerwig vive conflitos amorosos, financeiros e profissionais. “Não sei como me fazer funcionar no mundo” ela mesma diz.

Agora é a vez de Julie, vivida pela sensacional Renate Reinsve viver esses conflitos consigo mesma em A Pior Pessoa do Mundo, novo filme do diretor norueguês Joachim Trier e que completa a “trilogia de Oslo”, precedido por Reprise (2006) e Oslo, 31 de Agosto (2011).

Pelo título, a protagonista parece o diabo em pessoa. Mas com o passar do filme vemos que ela nada mais é do que um ser humano com dúvidas sobre tudo e tenta fazer o melhor que pode.

O que mais difere esse filme dos demais citados talvez seja o escopo dele. Enquanto os outros falam sobre seus protagonistas, esse fala sobre a vida como um todo.

É sobre pular de coisa em coisa sem saber o que busca. O início e o fim de amores, conexões rápidas com quem (talvez) nunca veremos novamente, família, o início e o fim da vida. Diferenças de expectativas sobre uma mesma coisa, coisas planejadas e não concretizadas, ver quem você já foi próximo vivendo outras coisas, o sentimento de o tempo parar quando estamos com quem amamos e o momento incrível se tornando apenas rotina.

É um filme que te da vontade de fumar, transar, sair correndo, sorrir, chorar, beijar, se decepcionar e se surpreender, se perder e se encontrar, mudar o penteado, mudar de casa, fazer uma festa com amigos…

A direção do Joachim Trier é impecável e é interessante como o roteiro, a direção e a edição fazem o filme sair de uma comédia dramática para um drama de forma orgânica, e faz você sentir tudo com calma. Não existem heróis e nem vilões, só pessoas e sentimentos.

A Renate Reinsve é uma deusa em tela e cada olhar dela tem 10 camadas. O Anders Danielsen Lie faz uma atuação digna de premiação e talvez o personagem mais divisor de opiniões, e o Herbert Nordrum aparece menos, mas é fundamental para o desenvolvimento do todo.

A escolha de música no final não poderia ser mais perfeita e tem pelo menos duas cenas que eu consigo ver claramente se tornando cenas imortais do cinema. 

Com o filme colecionando prêmios durante meses, uma frase ficou comum quando se ia falar dele: A Pior Pessoa do Mundo é o melhor filme do mundo. Eu concordo.

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Lucas Vinícius

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